A morte de Muamar Kadafi (7 de junho de 1942 – 20 de outubro de 2011) ocorreu no dia 20 de outubro de 2011, quando o líder internacionalista tinha 69 anos de idade. Ele foi morto em Sirte, o último reduto de resistência de seus partidários, após resistir heroicamente à maior coalisão militar das últimas décadas em uma guerra não declarada.

Hoje os partidários e ex-integrantes de movimentos kadafistas em todo o mundo realizam atividades para relembrar a data do martírio do líder Muamar Kadafi há 7 anos em Sirte. Serão realizadas atividades em Paris, Genebra, Roma, Moscou, Curitiba, Trípoli, Bengazi, Sirte, Cartum, Beirute, Porto Novo (Benin), Douala, Dakar, Abijan, entre outras cidades, sem contar muitas aldeias e cidades líbias.

Nascido em 7 de junho de 1942, martirizado em 20 de outubro de 2011, o beduíno líbio Muamar Muhamad Abu Minyar al Kadafi escreveu seu nome com letras de ouro na história da humanidade.Kadafi foi um revolucionário honrado, valente, combativo, que desafiou como poucos o poder dominante que escraviza e idiotiza a maioria dos seres humanos: o imperialismo e o sionismo.

Nascido no deserto de Sirte, aprendeu a história do homem através de livros dos viajantes que passavam em caravanas pelo deserto. Ainda jovem, decidiu entrar para as Forças Armadas para conseguir estudar e reunir força e apoio para derrubar o governo da época, o Rei Ídris.

Por sua inteligência e honra, foi escolhido para estudar em Londres, algo reservado apenas para os estudantes mais brilhantes do país. No velho reino decadente (Reino Unido), Kadafi desafiou os costumes e as leis ao se recusar a vestir roupas ocidentais. Foi punido, mas ao regressar à Líbia, havia formado um grupo de oficiais que lideraram a Revolução Al Fateh, derrubando o rei Ídris, apesar do apoio das potências ocidentais que tinham grandes bases militares no país: EUA, Inglaterra e França.

Em seu primeiro ano de governo, Kadafi estabeleceu forte aliança com o governo de Gamal Abdel Nasser, do Egito, com o objetivo de unir os países árabes na luta pela libertação do mundo árabe. Um ano depois, Gamal Nasser morreu envenenado pela CIA e Mossad.

Aclamado pelo povo líbio, Kadafi construiu uma nação soberana, independente, onde o povo desfrutava das riquezas do petróleo. A Líbia de Kadafi tinha o maior IDH (índice que mede bens como saúde, educação e habitação) da África. O país com pequena população prestava solidariedade internacional levando remédios, médicos e dentistas a vários países africanos, e além de tudo isso, a Líbia apoiava e financiava os povos que lutavam por libertação em diversas partes do mundo, principalmente Mandela na África do Sul e Ortega na Nicarágua.

Por tudo isso, por construir um poder popular – Jamahiriya Árabe Popular Socialista da Líbia –, Kadafi sempre foi perseguido pelos governos imperialistas e terroristas dos Estados Unidos da América. Foram décadas de boicotes e sanções injustificadas, de acusações de terrorismo, de campanha midiática diária tentando difamar no mundo ocidental o líder líbio e seu trabalho em defesa de sua pátria e de seu povo.

Em 1982, como medida punitiva ao suposto patrocínio líbio a grupos terroristas, o governo norte-americano proibiu a importação de petróleo da Líbia. Em 1986, após um atentado a bomba numa discoteca de Berlim, quando morreram dois cidadãos norte-americanos, os EUA, sem nenhuma prova, lançaram ataques aéreos em Trípoli e Benghazi e impuseram sanções econômicas contra o país. No final da decada de 1980 o governo líbio foi acusado de apoiar atentados contra aviões da Pan Am e da UTA, o que motivou a imposição de sanções também pela ONU, em março de 1992, e indenizações milionárias em 2010.

No ataque norte-americano à Líbia em 1982, foi assassinada a filha caçula de Kadafi, Hanna.

Em 1992 e 1993 a Organização das Nações Unidas impôs sérias sanções à Líbia acusando Kadafi de financiar o terrorismo pelo mundo. Essas sanções foram suspensas em 1999. O que Kadafi financiava era a luta por libertação dos povos.

Mesmo com a Líbia sofrendo ataques militares e sanções econômicas, Kadafi jamais se rendeu às grandes potências, e o povo líbio escreveu páginas imortais na história da humanidade através de sua perseverança na defesa da verdade e da justiça.

O país cresceu e progrediu economicamente sob o governo da Jamahiriya (Poder Popular). Em março de 2011 o governo norte-americano mudou sua estratégia para atacar a Líbia. Sabendo, por experiência própria, que não conseguiria vencer a resistência do povo líbio com ataques militares isolados, reuniu nas Nações Unidas a maioria das nações ocidentais e monarquias árabes corruptas para atacar de forma massiva, utilizando a Otan para infiltrar mercenários (Al Qaeda e embriões do Estado Islâmico, Daesh, Isis) em algumas cidades líbias, produtoras de petróleo. O governo norte-americano decretou uma Zona de Exclusão que foi interpretada pelo governo francês como ordem para iniciar os ataques aéreos que assassinaram mais de 70.000 líbios, entre civis e militares.

Diversas cidades líbias foram praticamente destruídas, principalmente Sirte, que concentrou a resistência patriótica e serviu de local para o martírio do líder Muamar Kadafi.

A maior obra arquitetônica da modernidade, o Grande Rio Verde, que transportava água potável para dezenas de cidades líbias desde a foz do rio Nilo, foi destruída pelos agressores. O maior e mais moderno aeroporto do mundo que estava sendo construído por empreiteira brasileira em Trípoli foi atacado até em suas fundações.

Mesmo recebendo diversas propostas de abandonar o país, Kadafi se recusou a deixar sua terra e lutou até o final, como um verdadeiro herói. Tombou no dia 20 de agosto, combatendo, a exemplo de seus familiares que foram mortos, exilados ou aprisionados.

Para destruir o governo da Líbia, um pequeno país com 6 milhões de habitantes, o governo norte-americano precisou unir 70 países, entre eles os mais poderosos do mundo, e ainda assim levaram mais de seis meses para sufocar a resistência do povo líbio, através de ataques aéreos de destruição em massa, vitimando na maioria das vezes civis indefesos.

Em vida Kadafi sempre se referiu ao legendário Omar Moukhtar como exemplo maior do povo árabe líbio. Ele morreu combatendo contra a dominação italiana na Líbia. Moukhtar morreu mas seu exemplo continuou vivo, e contagiou Muamar Kadafi.

No dia 20 de agosto de 2011 Muamar Kadafi foi morto de forma covarde e traiçoeira por mercenários e militares estrangeiros em Sirte, sua terra natal, depois que sua guarda pessoal tombou lutando gloriosamente, sufocada pelo grande número de mercenários apoiados pela tecnologia militar mais avançada do planeta.

O homem morreu, mas suas ideias não morrerão. O Livro Verde continua esclarecendo as pessoas sobre a verdadeira democracia, o verdadeiro poder popular.

O nome de Muamar Kadafi está escrito com fogo e sangue na história de libertação dos povos oprimidos e escravizados ao longo das últimas decadas. Os governantes norte-americanos, ingleses, italianos e franceses, jogaram seus nomes na lata de lixo da história por agirem com covardia, de forma criminosa, para expandir seus domínios e conquistas imperialistas.

A história não destaca ou se lembra de nenhum presidente norte-americano, francês ou inglês com honra e dignidade que tenha servido aos interesses maiores da humanidade. Sem exceção, foram todos marionetes dos interesses econômicos de elites predatórias, poluidoras, destruidoras do meio ambiente, promotores de guerras e destruição para fortalecer a indústria bélica de seus respectivos países. Neste sentido, os ex-presidentes dos EUA, Inglaterra, França (com exceção de Napoleão) não tem escopo moral nem mesmo para lavar os pés de Muamar Kadafi, que dedicou sua vida ao combate das injustiças praticadas pelos países colonialistas e imperialistas contra os pequenos povos e nações em diversas partes do mundo.

Kadafi vive e para sempre viverá. O povo árabe líbio resgatará a Jamahiriya e expulsará de suas terras os mercenários e terroristas plantados pelos EUA e seus cúmplices.

Tentando justificar a guerra dos EUA e seus aliados à Líbia, o então presidente Barack Obama declarou, durante discurso para militares na Universidade de Defesa Nacional em Washington, que “Os Estados Unidos devem agir quando os seus interesses e os seus valores são ameaçados”. Que hipocrisia. Será que os militares norte-americanos são tão idiotas a ponto de acreditar nessas palavras vazias e sem sentido? Puro patriotismo irracional a serviço da indústria bélica e petrolífera.

O melhor IDH da África, conquistado pela Líbia, ameaçava os Estados Unidos da América? A liberdade e independência do país ameaçava as mentiras e o terrorismo de Estado praticado pelos governos norte-americanos há séculos?

Para tentar justificar a guerra contra a Líbia, a imprensa mundial fez uma verdadeira campanha de difamação contra Kadafi e o governo líbio. Inventaram matérias espetaculares sobre os “soldados de Kadafi”, tomando viagra e drogas no campo de batalha, um harém de Kadafi com escravas sexuais (livro lançado no império decadente da Inglaterra e traduzido em diversos países, inclusive no Brasil), torturas e assassinatos de presos políticos.

Campanhas publicitárias elaboradas pelo Pentágono e financiadas pelo governo norte-americano fizeram a alegria de muitos proprietários de jornais e canais de televisão em diversos países – todos eles cúmplices de crime de guerra.

Com a opinião pública anestesiada, os governos fazem guerras, promovem o terrorismo de estado, sem serem incomodados.

A Líbia que conheci não é a Líbia mostrada pela corrupta imprensa ocidental. Por 19 vezes visitei a Líbia, andei pelas ruas de Trípoli, Benghazi e Sirte. Vi um povo feliz com as riquezas do petróleo divididas entre as pessoas de acordo com o número de filhos. O governo incentivava o crescimento populacional.

Vi edifícios brotarem nas areias do deserto como palmeiras, imensas rodovias, viadutos, portos, aeroportos, construídos pela mais moderna tecnologia mundial, por empreiteiras estrangeiras.

Vi a solidariedade efetiva de Kadafi e do povo líbio para com seus irmãos da África do Sul, Chade, Nicarágua, Argentina etc. Países para os quais enviavam apoio militar e financeiro na luta por libertação.

A Líbia heroica que enviou armas para os argentinos lutarem contra os ingleses nas Malvinas não é a Líbia mostrada pela mídia. Na guerra das Malvinas um avião líbio carregado de armas que voava rumo à Argentina foi apreendido no Brasil, a “pedido” dos ingleses e governo dos EUA. Um ato covarde como este de impedir a solidariedade a um país vizinho e irmão cometido pelo governo brasileiro no governo FHC, jamais seria cometido na Líbia; não na Líbia kadafista.

Muitos foram os motivos da guerra à Líbia. Não foi apenas o petróleo, cujas reservas (estimadas em 60 bilhões de barris) são as mais importantes da África e cujos custos de extração estão entre os mais baixos do mundo. Nem, tão pouco, o gás natural, cujas reservas são estimadas em cerca de 1.500 bilhões de m3.

Além do roubo das riquezas naturais do país, os governos dos EUA, França e Inglaterra buscavam também se apoderar dos fundos soberanos, os capitais que o Estado líbio investiu no estrangeiro.

Os fundos soberanos – investimentos – geridos pela Libyan Investment Authority (LIA) são estimados em cerca de 70 bilhões de dólares, que sobem a mais de 150 bilhões se incluírem os investimentos estrangeiros do Banco Central e de outros organismos líbios. Quando a LIA foi constituída em 2006, ela dispunha de 40 bilhões de dólares. Em apenas cinco anos ela efetuou investimentos em mais de uma centena de sociedades norte-africanas, asiáticas, europeias, norte-americanas e sul-americanas: holdings, bancos, imobiliário, indústria, companhias de petróleo e outras.

Na Itália, os principais investimentos líbios foram os efetuados na UniCredit Banca (de que a LIA e o Banco Central líbio possuem 7,5%), na Finmeccanica (2%) e na ENI (1%): estes investimentos e outros (inclusive 7,5% no Juventus Football Club) têm um significado menos econômico (montam a cerca de 4 bilhões de dólares) do que político.

A Líbia, depois de Washington a ter apagado da sua lista dos “Estados bandidos”, tentou restabelecer um lugar no plano internacional apoiando-se na “diplomacia dos fundos soberanos”. Quando os Estados Unidos e a União Europeia aboliram o seu embargo de 2004 e as grandes companhias de petróleo retornaram ao país, Trípoli pôde dispor de um excedente comercial de cerca de 30 bilhões de dólares por ano que destinou em grande parte a investimentos no estrangeiro. A gestão dos fundos soberanos, nas mãos de ministros e altos funcionários, criou entretanto um novo mecanismo de poder e corrupção que provavelmente escapou ao controle do próprio Kadafi – o que se confirma pelo fato de que em 2009 este propôs que os 30 bilhões de dividendos petrolíferos fossem divididos com o povo líbio.
Isso teria provocado uma divisão interna no governo líbio.

Foi nessa divisão que se apoiaram os círculos dominantes norte-americanos e europeus que, antes de atacar a Líbia militarmente para apossar-se da sua riqueza energética, apropriaram-se dos fundos soberanos líbios. Esta operação foi favorecida pelo próprio representante da Libyan Investment Authority, Mohamed Layas.

Conforme um telegrama diplomático publicado pela Wikileaks, em 20 de janeiro Layas informou o embaixador americano em Trípoli de que a LIA havia depositado 32 bilhões de dólares em banco norte-americano. Cinco semanas mais tarde, a 28 de fevereiro, o Tesouro norte-americano congelou o investimento. De um só golpe, os norte-americanos roubaram 32 bilhões de dólares dos líbios.

Segundo as declarações oficiais, esta foi “a maior soma de dinheiro já bloqueada nos Estados Unidos”, que Washington mantém “em depósito para o futuro da Líbia”. Ela servirá na realidade para uma injeção de capitais na economia norte-americana, cada vez mais endividada. Alguns dias mais tarde, a União Europeia “congelou” cerca de 45 bilhões de euros de fundos líbios.

O assalto aos fundos líbios teve um impacto especialmente forte na África.

Neste continente, a Libyan Arab African Investment Company efetuou investimentos em mais de 25 países, dos quais 22 na África sub-sahariana, programando aumentá-los nos próximos cinco anos, sobretudo nos setores de mineração, manufatureiro, turístico e no das telecomunicações. Os investimentos líbios foram decisivos na realização do primeiro satélite de telecomunicações da Rascom (Regional African Satellite Communications Organization) que, colocado em órbita em agosto de 2010, permite aos países africanos começarem a tornar-se independentes das redes de satélites norte-americanos e europeias, realizando assim uma economia anual de centenas de milhões de dólares.

Ainda mais importantes foram os investimentos líbios na realização de três organismos financeiros lançados pela União Africana: o Banco Africano de Investimento, cuja sede é em Trípoli; o Fundo Monetário Africano, com sede em Yaundé (Camarões); o Banco Central Africano, instalado em Abuja (Nigéria). O desenvolvimento destes organismos devia permitir aos países africanos escaparem ao controle do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, ambos instrumentos de dominação neo-colonial, e devia assinalar o fim do franco CFA, a moeda que 14 ex-colonias francesas são obrigadas a usar. O congelamento dos fundos líbios foi um roubo aberto e declarado, escondido pela incompetente e corrupta imprensa internacional.

Hoje a Líbia é um país destruído pela guerra imperialista comandada pelo governo norte-americano. O país está dividido porque este era o objetivo dos agressores. Atualmente grande parte do petróleo e gás do país é entregue a título de pagamento de despesas de guerra para as potências que atacaram o país. E o único nome capaz de unir e unificar o país para a reconstrução é o de Saif al Islan al Kadafi, filho e sucessor político do imortal líder Muamar Kadafi.

Texto: Movimento Democracia Direta – Paraná – Brasil

Informações do livro “Líbia Kadafista” de José Gil de Almeid